Ao fim de 31 dias de viagem… finalmente o Namibe!!!
Nas vésperas, mesmo com o rádio a funcionar mal – ficando mudo a cada vez menores espaços de tempo - conseguimos transmitir a nossa posição, indicando uma previsão de chegada entre as 4 e as 6 horas da manhã.
O vento que nos dois últimos dias nos ajudou a rumar ao nosso destino inicial, soprando do quadrante sul, acabou de repente a cerca de 50 milhas da costa! A nossa reserva de diesel deu, muito folgadamente, para percorrermos essa pequena etapa final e entrarmos na belíssima baía do Namibe dentro do horário previsto.
Sabíamos que havia amigos à nossa espera, só não sabendo em que ponto da baía deviam estar. Manhã cinza, meio nebulenta, o comandante fazendo a triangulação, Mateus ao leme e o “tio” em pé tentando avistar algum sinal.
De repente lá estavam uns faróis de carros a indicarem onde devíamos fundear! O entusiasmo a bordo se já era grande aumentou muito, bem como a emoção dos tripulantes!
Às 05h 30m GMT baixamos âncora! Cumprimos a travessia, que, diretamente do Brasil para Angola, não consta que se fizesse desde… desde quando?
Ali, a 50 metros estava um grupo de amigos que nos recebeu com um carinho e um calor humano que nos encheu os corações! Saiu o primeiro Abraço à Vela, à Ana Clara Tendinha e ao irmão Mário, ao Lanucha (Herculano) Dolbeth Costa, ao Victor Reis e ao Álvaro Batista. Não exatamente por esta ordem por que a todos abraçámos no mesmo instante.
Nem cinco minutos depois apareceu o primeiro repórter! Rádio Namibe. Entrevista rápida para sair no primeiro noticiário da manhã.
Formalidades de chegada foram impecavelmente simples e em poucos minutos tínhamos a situção legalizada nesta cidade sensacional.
Os amigos envolveram-nos e fomos tomar o primeiro “matabicho” em terra! Uma delícia! As pessoas viam aquele barquinho ali fundeado e custava-lhes a acreditar que tivéssemos vindo diretamente do Brasil, com 31 dias de viagem… sem escalas! Quase virámos heróis!!!
Não tardou a chegar nova entrevista da TPA – a Televisão de Angola! Sempre envolvidos por um carinho imenso o Diretor de Turismo da Província do Namibe, Alcides Cabral, veio dar-nos mais um abraço, a quem aproveitámos para informar que éramos portadores de um abraço especial do Prefeito do Rio – Eng. César Maia – para o Governador do Namibe.
Enquanto almoçávamos, sempre convidados, um arroz de mariscos de fazer inveja a qualquer sultão, novo repórter, desta vez da Rádio Ecclésia de Luanda. O repórter perguntou até como era possível estar tanto tempo a bordo sem ver terra!
A seguir ao almoço lá estava o Alcides Cabral a informar que o Governador estava ausente da cidade, mas que às 16h o vice Governador, António Correia, nos ia receber. Ao mesmo tempo a Capitania e a Alfândega anunciaram uma vistoria a bordo – que acabou por não se concretizar, possivelmente por terem achada desnecessária, mas que impediu o Comandante e o Matheus de irem à sede do governo. Foi o “tio”! Em poucas palavras explicámos como tinha surgido a ideia de trazer um abraço do Brasil, terra que tanta gente tem oriunda desta Angola, e que o livro que trazíamos era um símbolo desse abraço! O vice Governador agradeceu muito, disse-nos que as gentes do Namibe se sentiam muito tocadas por esse gesto nosso – muito mais pelo nosso feito, do que pelo livro – e por fim, com a TPA presente, a entrega do livro em frente da bandeira de Angola com a fotografia do Presidente José Eduardo dos Santos ao fundo. Reunião simples, rápida, mas carregada de emoção de parte a parte.
A primeira etapa do nosso ABRAÇO estava cumprida.
Os amigos levaram-nos a ver a cidade, como ela está a ressurgir de todo aquele cataclismo que foi a guerra fratricida, seguida de um cataclismo em 2002 – uma imensa inundação que um pequeno rio, quase seco, o Bero, trouxe lá das montanhas do Lubango – que destruiu milhares de casas, e o dia foi de tal forma cheio, que mesmo cansados da viagem, só terminou cerca da meia noite.
É dificil descrever o quanto sentimos, todos, com este primeiro abraço em terras angolanas.
Hoje, dia 4, abastecemos o barco de diesel, adquiriram-se mais cinco bidões de 20L cada para transportar água para bordo, e que nos vão depois aumentar a reserva de diesel – substituindo dois a que a escota da genoa arrancou as tampas e nos fez perder, naqueles dias de mar difícil, 30 litros de combustível.
Neste momento a tripulação , ciceroneada pelo Lanucha, vai dar uma volta pelo deserto, a maravilha que nos atraiu desde que começámos a planejar a nossa travessia.
Vai longo o relato, mas não pode terminar sem uma menção especial, aliás duas:
- a humildade do Matheus, aceitando sempre de sorriso simpático as “acometidas” das brincadeiras do Comandante e do “tio”, e
- a impecável “gestão” de toda a viagem do Comandante José Guilherme que, com uma resistência física impressionante, entre muitas outras coisas, teve subir quatro vezes ao mastro, tarefa quase impossível, parecia dormir sempre com um olho aberto e outro fechado, atento a tudo que parecesse alterar o bom andamento do “Mussulo”, e que sobretudo transformou estes 31 dias de quase clausura num diminuto espaço, numa viagem a que os três, na véspera da chegada, foram unânimes em se espantar como tanto tempo tinha passado sem que agora se apercebessem disso!
Levantar ferro previsto para hoje ao fim do dia.
Que bons ventos nos levem agora até Luanda, dois e meio a três dias de viagem, levando o barco carregado de novas amizades e muito calor humano.
Obrigado a esses amigos que deixaremos, mas que seguem “aqui dentro”, conosco. Sensacional.
Nas vésperas, mesmo com o rádio a funcionar mal – ficando mudo a cada vez menores espaços de tempo - conseguimos transmitir a nossa posição, indicando uma previsão de chegada entre as 4 e as 6 horas da manhã.
O vento que nos dois últimos dias nos ajudou a rumar ao nosso destino inicial, soprando do quadrante sul, acabou de repente a cerca de 50 milhas da costa! A nossa reserva de diesel deu, muito folgadamente, para percorrermos essa pequena etapa final e entrarmos na belíssima baía do Namibe dentro do horário previsto.
Sabíamos que havia amigos à nossa espera, só não sabendo em que ponto da baía deviam estar. Manhã cinza, meio nebulenta, o comandante fazendo a triangulação, Mateus ao leme e o “tio” em pé tentando avistar algum sinal.
De repente lá estavam uns faróis de carros a indicarem onde devíamos fundear! O entusiasmo a bordo se já era grande aumentou muito, bem como a emoção dos tripulantes!
Às 05h 30m GMT baixamos âncora! Cumprimos a travessia, que, diretamente do Brasil para Angola, não consta que se fizesse desde… desde quando?
Ali, a 50 metros estava um grupo de amigos que nos recebeu com um carinho e um calor humano que nos encheu os corações! Saiu o primeiro Abraço à Vela, à Ana Clara Tendinha e ao irmão Mário, ao Lanucha (Herculano) Dolbeth Costa, ao Victor Reis e ao Álvaro Batista. Não exatamente por esta ordem por que a todos abraçámos no mesmo instante.
Nem cinco minutos depois apareceu o primeiro repórter! Rádio Namibe. Entrevista rápida para sair no primeiro noticiário da manhã.
Formalidades de chegada foram impecavelmente simples e em poucos minutos tínhamos a situção legalizada nesta cidade sensacional.
Os amigos envolveram-nos e fomos tomar o primeiro “matabicho” em terra! Uma delícia! As pessoas viam aquele barquinho ali fundeado e custava-lhes a acreditar que tivéssemos vindo diretamente do Brasil, com 31 dias de viagem… sem escalas! Quase virámos heróis!!!
Não tardou a chegar nova entrevista da TPA – a Televisão de Angola! Sempre envolvidos por um carinho imenso o Diretor de Turismo da Província do Namibe, Alcides Cabral, veio dar-nos mais um abraço, a quem aproveitámos para informar que éramos portadores de um abraço especial do Prefeito do Rio – Eng. César Maia – para o Governador do Namibe.
Enquanto almoçávamos, sempre convidados, um arroz de mariscos de fazer inveja a qualquer sultão, novo repórter, desta vez da Rádio Ecclésia de Luanda. O repórter perguntou até como era possível estar tanto tempo a bordo sem ver terra!
A seguir ao almoço lá estava o Alcides Cabral a informar que o Governador estava ausente da cidade, mas que às 16h o vice Governador, António Correia, nos ia receber. Ao mesmo tempo a Capitania e a Alfândega anunciaram uma vistoria a bordo – que acabou por não se concretizar, possivelmente por terem achada desnecessária, mas que impediu o Comandante e o Matheus de irem à sede do governo. Foi o “tio”! Em poucas palavras explicámos como tinha surgido a ideia de trazer um abraço do Brasil, terra que tanta gente tem oriunda desta Angola, e que o livro que trazíamos era um símbolo desse abraço! O vice Governador agradeceu muito, disse-nos que as gentes do Namibe se sentiam muito tocadas por esse gesto nosso – muito mais pelo nosso feito, do que pelo livro – e por fim, com a TPA presente, a entrega do livro em frente da bandeira de Angola com a fotografia do Presidente José Eduardo dos Santos ao fundo. Reunião simples, rápida, mas carregada de emoção de parte a parte.
A primeira etapa do nosso ABRAÇO estava cumprida.
Os amigos levaram-nos a ver a cidade, como ela está a ressurgir de todo aquele cataclismo que foi a guerra fratricida, seguida de um cataclismo em 2002 – uma imensa inundação que um pequeno rio, quase seco, o Bero, trouxe lá das montanhas do Lubango – que destruiu milhares de casas, e o dia foi de tal forma cheio, que mesmo cansados da viagem, só terminou cerca da meia noite.
É dificil descrever o quanto sentimos, todos, com este primeiro abraço em terras angolanas.
Hoje, dia 4, abastecemos o barco de diesel, adquiriram-se mais cinco bidões de 20L cada para transportar água para bordo, e que nos vão depois aumentar a reserva de diesel – substituindo dois a que a escota da genoa arrancou as tampas e nos fez perder, naqueles dias de mar difícil, 30 litros de combustível.
Neste momento a tripulação , ciceroneada pelo Lanucha, vai dar uma volta pelo deserto, a maravilha que nos atraiu desde que começámos a planejar a nossa travessia.
Vai longo o relato, mas não pode terminar sem uma menção especial, aliás duas:
- a humildade do Matheus, aceitando sempre de sorriso simpático as “acometidas” das brincadeiras do Comandante e do “tio”, e
- a impecável “gestão” de toda a viagem do Comandante José Guilherme que, com uma resistência física impressionante, entre muitas outras coisas, teve subir quatro vezes ao mastro, tarefa quase impossível, parecia dormir sempre com um olho aberto e outro fechado, atento a tudo que parecesse alterar o bom andamento do “Mussulo”, e que sobretudo transformou estes 31 dias de quase clausura num diminuto espaço, numa viagem a que os três, na véspera da chegada, foram unânimes em se espantar como tanto tempo tinha passado sem que agora se apercebessem disso!
Levantar ferro previsto para hoje ao fim do dia.
Que bons ventos nos levem agora até Luanda, dois e meio a três dias de viagem, levando o barco carregado de novas amizades e muito calor humano.
Obrigado a esses amigos que deixaremos, mas que seguem “aqui dentro”, conosco. Sensacional.
Um comentário:
Parabéns Sr Francisco e todos os demais tripulantes.
Acompanhamos sua viagem dia a dia,com muita preocupação (confesso que achei uma loucura! ).
Mas no final tudo deu certo e este é um momento de grande alegria para todos que participaram e/ou acompanharam e torceram muito para que sua "conquista dos mares" fosse um sucesso.
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Mar Portuguez - Fernando Pessoa
Um grande abraço e Feliz regresso.
Vania Erthal
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